Apesar de ter surgido no início
século passado, com o nascimento da antropologia e da sociologia de Chicago,
foi apenas na década de 70, sobretudo nos EUA, que se assiste a uma explosão de
pesquisas levadas a cabo sob este novo referencial – é a 2ªfase ou período
“modernista” (Flick, 1998). Em meados dos anos 80 surge a 3ª fase da história
da investigação qualitativa e com os anos 90 surge a fase atual, ou 4º momento
(Flick, 1998), em que a tónica vai para a construção de teorias que se adaptem
a problemas/situações muito específicas e que é conhecida, na literatura
anglo-saxónica, por grounded theory (Flick,
1998; Punch, 1998).
Do ponto de vista ontológico,
segundo Guba (1990), este paradigma adota uma posição relativista, inspira-se
numa epistemologia subjetivista que valoriza o papel do investigador/construtor
do conhecimento, e por isso o quadro metodológico adotado é incompatível com as
propostas do positivismo e do pós-positivismo.
De forma sintética, este
paradigma pretende substituir as noções científicas de explicação, previsão e controlo do paradigma positivista pelas de compreensão, significado e ação.
Investigar implica interpretar
ações de quem é também intérprete, envolve interpretações de interpretações –
dupla hermenêutica. Além de parciais e perspetivadas as interpretações são
circulares. A interpretação da parte depende da do todo, mas o todo depende das
partes. Esta interação da interpretação todo/parte é designada por círculo
hermenêutico da interpretação. A produção do conhecimento é assim concebida
como um processo circular, iterativo e em espiral, não linear e cumulativo como
retratado na epistemologia positivista.
Segundo Gadamer (1975), um
conhecimento “objetivo” no sentido positivista é de todo impossível. Porém será
um conhecimento válido na medida em que, o ter consciência da influência da
“tradição” na sua interpretação, faz com que o investigador tenha uma maior
abertura de espírito no momento de interpretar. Estar consciente dos seus
preconceitos torna o investigador mais lúcido e o conhecimento que daí resulta
será mais objetivo.
Assim, a investigação é uma
“fusão de horizontes” – o investigador, consciente das suas ideias
pré-concebidas ( o seu horizonte), busca incessantemente o conhecimento abrindo
a “sua” a outras perspetivas (outros horizontes) que com ele se fundem, completam
e expandem.
Esta “fusão de horizontes” é, então, segundo Gadamer
(1975), o referencial da objetividade que funciona como alternativa à noção do
conceito segundo a epistemologia positivista.
Adaptado de Coutinho, C. (2015). Metodologia de investigação em ciências sociais e humanas: Teoria e Prática. Coimbra: Almedina.
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