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sábado, 26 de dezembro de 2015

PARADIGMA QUALITATIVO OU INTERPRETATIVO (hermenêutico, naturalista, qualitativo, construtivista)

Apesar de ter surgido no início século passado, com o nascimento da antropologia e da sociologia de Chicago, foi apenas na década de 70, sobretudo nos EUA, que se assiste a uma explosão de pesquisas levadas a cabo sob este novo referencial – é a 2ªfase ou período “modernista” (Flick, 1998). Em meados dos anos 80 surge a 3ª fase da história da investigação qualitativa e com os anos 90 surge a fase atual, ou 4º momento (Flick, 1998), em que a tónica vai para a construção de teorias que se adaptem a problemas/situações muito específicas e que é conhecida, na literatura anglo-saxónica, por grounded theory (Flick, 1998; Punch, 1998).

Do ponto de vista ontológico, segundo Guba (1990), este paradigma adota uma posição relativista, inspira-se numa epistemologia subjetivista que valoriza o papel do investigador/construtor do conhecimento, e por isso o quadro metodológico adotado é incompatível com as propostas do positivismo e do pós-positivismo.
De forma sintética, este paradigma pretende substituir as noções científicas de explicação, previsão e controlo do paradigma positivista pelas de compreensão, significado e ação.

Investigar implica interpretar ações de quem é também intérprete, envolve interpretações de interpretações – dupla hermenêutica. Além de parciais e perspetivadas as interpretações são circulares. A interpretação da parte depende da do todo, mas o todo depende das partes. Esta interação da interpretação todo/parte é designada por círculo hermenêutico da interpretação. A produção do conhecimento é assim concebida como um processo circular, iterativo e em espiral, não linear e cumulativo como retratado na epistemologia positivista.

Segundo Gadamer (1975), um conhecimento “objetivo” no sentido positivista é de todo impossível. Porém será um conhecimento válido na medida em que, o ter consciência da influência da “tradição” na sua interpretação, faz com que o investigador tenha uma maior abertura de espírito no momento de interpretar. Estar consciente dos seus preconceitos torna o investigador mais lúcido e o conhecimento que daí resulta será mais objetivo.

Assim, a investigação é uma “fusão de horizontes” – o investigador, consciente das suas ideias pré-concebidas ( o seu horizonte), busca incessantemente o conhecimento abrindo a “sua” a outras perspetivas (outros horizontes) que com ele se fundem, completam e expandem.

Esta “fusão de horizontes” é, então, segundo Gadamer (1975), o referencial da objetividade que funciona como alternativa à noção do conceito segundo a epistemologia positivista.

Adaptado de Coutinho, C. (2015). Metodologia de investigação em ciências sociais e humanas: Teoria e Prática. Coimbra: Almedina.

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